Evandro Lima
Aprender Química já não é mais como antes. Pelo menos para os alunos do professor carioca Silvio Luís Predis da Silva, de 35 anos. A aulas da disciplina, considerada complexa por muitos estudantes ganharam um aliado de peso: o Funk. Ao som do batidão, os vídeos das aulas do professor Sílvio estão entre os mais populares e acessados na internet. O ponto alto são as fórmulas e regras de Química inseridas nas letras de Funk, além do clima descontraído nas salas de aula e a participação total dos alunos.
Formado pela UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Sílvio trabalha com turmas de terceira série do ensino médio e de cursos pré-vestibulares em duas grandes instituições de ensino carioca.
Antes de decidir pelo magistério, ele conta que como a maioria dos alunos, ao chegar no último ano do ensino médio, não tinha a menor noção de qual carreira deveria seguir. Pensou em Direito, Nutrição, Educação Física e até mesmo Engenharia. A cada momento outras opções iam surgindo.
Perto do prazo final de inscrições para o vestibular optei por fazer Química. No início a notícia assombrou um pouco a família, tendo em vista que não é uma carreira tão comum à maioria – disse Sílvio ao Amigos de Brasil em Baleares.
Após a euforia de ter sido aprovado no concorrido vestibular, o professor conta que voltou ao seu universo de indecisões e a dúvida era se seguiria uma formação voltada para indústrias ou se direcionava seus estudos para as pesquisas.
Assim que começou a frequentar escolas na função de monitor, o então estudante de Química se apaixonou pela sala de aula de imediato e teve a certeza que o caminho seria aquele. Passou a se dedicar ao máximo na formatação de aulas que fossem dinâmicas e próximas à realidade dos alunos.
Para despertar o interesse dos estudantes e tornar a disciplina mais atrativa, o docente começou a utilizar a música como recurso em suas aulas. A primeira música foi em 2003. Ela foi criada meio que ao acaso. O retorno foi fantástico, principalmente porque foi cantada perto da prova. Percebi que foi uma ferramenta bem interessante no aspecto emocional dos alunos. No início, ganhei o apelido de “Mc Bola de Fogo”. Era um funk de bastante sucesso que tocava aqui no Rio.
O funk é um dos ritmos utilizados. A maior parte acaba sendo este ritmo, tendo em vista que na minha adolescência foi o estilo musical que mais escutei. Hoje sou mais eclético... Acabo ouvindo um pouco de cada gênero musical. Vale ressaltar que o funk, aqui no Rio, representa um movimento de grande adesão, principalmente entre os jovens – revela o professor Sílvio.
As letras das músicas são de autoria própria e geralmente surgem quando ele está dirigindo, no caminho entre uma escola e outra. A respeito da repercussão de suas aulas nas redes sociais, o professor se diz impressionado com a recepção dos alunos que curtem as músicas e vídeos e com as expectativas em torno das próximas lições ao som do “pancadão”.
A partir desse "estilo musical de aula" percebi que aqueles alunos que sempre tiveram grande aversão à química passaram a se aproximar mais da matéria, prestando mais atenção e, com isso, melhorando o desempenho.
Ao encontrar ex-alunos, que hoje cursam universidades públicas, costumo ouvir que as músicas foram um dispositivo de grande utilidade na aprovação e que, mesmo após vários anos, eles ainda se lembram perfeitamente da letra – declara o professor com a sensação de missão cumprida.
O professor também acredita que a tecnologia também pode ser uma grande aliada em sala de aula porque através da internet, o trabalho de um professor pode sim ultrapassar as fronteiras de uma escola, beneficiando maior número de alunos.
Numa realidade de baixos salários e desvalorização do professor além da situação de risco em que grande parte deles estão expostos no Brasil, principalmente em bairros de periferias, Sílvio Prédis se considera um profissional de educação bem-sucedido. Mas deixa claro que isso não o impede de, a partir do momento em que os vídeos permitam um espaço na mídia, lutar por melhores condições para a classe da qual, orgulhoso, faz parte.
Mesmo se dividindo em várias turmas durante a semana, o professor faz questão de manter a qualidade de vida e sempre encontra tempo para o lazer. Sempre ouvi que professor não tem vida. Felizmente, comigo isso não acontece. Consegui encontrar trabalho em lugares que me dão uma boa condição. O salário que eu tenho hoje me atende para a vida simples que eu planejei ter. Tenho a noite livre para fazer outras atividades, ficar com a família, praticar esportes. Não sou escravo da aula.
Professor brasileiro ensina Química ao som do Funk
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Evandro Lima, 37 anos, é carioca, jornalista, pesquisador de Comunicação e Cultura Urbana, ator e produtor cultural. Escreve artigos sobre televisão, cinema, música e atualidades para blogs e redes sociais. É autor do “Manifesto Cotidiano” página do Facebook onde mantém todos os seus artigos. Amante da poesia, é um dos apresentadores do Sarau Poesia de Esquina, da Cidade de Deus, um dos principais movimentos literários do Rio Janeiro.
Professor brasileiro vira febre na internet ao ensinar Química ao som do Funk

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