Perla. Texto de André Cozta

André Cozta

DSC_9767.jpg
Foto: Carlos Venturelli

















Mergulhada bem ao fundo do mar, ela admirava toda aquela vegetação, os
peixes. Via vida lá embaixo, vivia, naquele instante, como se fosse um ser
aquático. Respirava como eles.

Acordou-se daquele sonho, foi à cozinha, bebeu um copo de água, sentou-
se à varanda de sua casa, ficou visualizando o horizonte, em seguida, aquela
montanha, que, diariamente, pela manhã, lhe inspirava sonhos, lhe instigava
saudades.

Perla era assim, uma mulher que vivia sua própria vida como se fosse uma
poesia.

Cada instante, cada olhar, cada suspiro era como um verso que compunha e ia
montando, pouco a pouco, aquela obra construída a cada momento.

Uma obra de arte que começara em um lugar tão distante, mas tão distante,
que, volta e meia, questionava-se de como pudera atravessar tanto “chão” para
começar a construir vida nova em um lugar tão longínguo e tão “estranho” a
tudo o que vivera até então.

O sol se sobrepunha à montanha e formava ali uma imagem perfeita, uma
fotografia digna de qualquer prêmio, típica cena cinematográfica.

Lembrou-se dos momentos que vivera em sua terra natal, já tão longe no
tempo, mas, tão presentes e recentes no seu coração e na sua memória.

E percebeu que aquele lugar distante, geograficamente, nunca saiu de dentro
dela. Era inerente à sua alma e a acompanhava aonde quer que fosse.

Perla, por alguns instantes, fechou os olhos e transportou-se mentalmente à
sua terra natal.

Voltou à infância, correu por parques e praças. Brincou na praia, sujou-
se na areia, abriu os olhos novamente e sorriu. Voltou a fechá-los e viu-se
adolescente no lugar onde nascera e crescera. As primeiras festas, o primeiro
namorado, o primeiro beijo... sorriu, abriu os olhos novamente, colocou a mão
direita ao coração, que pulsava mais forte.

E pensou: “Foram tantos bons momentos que, na verdade, nunca terminaram.
Carrego-os em mim até hoje e os carregarei por toda a eternidade, onde quer
que eu viva.”

Foi à cozinha, preparou sua refeição matinal. O dia seria cheio de
compromissos. A responsabilidade do dia a dia a chamava, mais uma vez.

Entre reuniões, sorrisos e alguns momentos tensos, Perla passou o dia com
aquela imagem do sol sobre a montanha em sua memória. Não conseguia
parar de visualizar aquela fotografia divina.

Pudesse, teria fotografado e colocado em um quadro em sua casa, outro em
seu escritório.

Quando retornava para casa, ao final do dia, concluiu que, invariavelmente,
deixava escapar boas oportunidades de mergulhar em si própria, por conta dos
compromissos. Pensou: “Talvez, esta tenha sido a mensagem do sonho. Eu
devo mergulhar mais em minha própria vida, devo mergulhar mais em mim.”

Em casa, tomou um banho, jantou e, naquela noite, ao invés de conversar com
amigos da sua terra natal e do lugar onde escolheu para viver, pela internet,
ler um livro ou assistir televisão, colocou sua confortável poltrona na varanda,
passou a fitar a lua e as estrelas.

Percebeu que, se não poderia, naquele momento, estar presente fisicamente
em seu lugar de origem, deveria transportar-se ali, visualizando o céu, a lua,
as estrelas. Afinal, se carregava, através das recordações, suas raízes em seu
íntimo, poderia, a partir dele, transportar-se da forma mais rápida que há.

E assim o fez naquela noite.

Na manhã seguinte, acordou-se antes do amanhecer. Preparou-se e foi à
praia.

Lá, em frente ao mar, aguardou o nascer do sol. E assim que amanheceu,
Perla olhou para o Astro Rei, sorrindo. Em seguida, fechou os olhos e
transportou-se para sua terra natal.

Deixou que os raios solares banhassem sua pele, permaneceu de olhos
fechados. E pensou: “Se não estou lá, neste momento, estou aqui, neste lugar
que também amo muito. Mas, posso estender meu coração agora, construindo
uma ponte que me transporta facilmente daqui para lá e de lá para cá”.

E assim passou a ser. Diariamente, Perla transmutava sua saudade, tornando-
a um elemento fortalecedor do seu dia a dia e, olhando para o céu, para a
montanha, para o sol ou para o mar, visitava sua infância, sua adolescência,
sua vida e sua raiz.

Continua...

Asociacion Amigos de Brasil en Baleares AABB

Author & Editor

Promovemos a integração, a cultura brasileira, as atividades artísticas, os esportes, potenciar a convivência, a justiça social, colaborar com as instituições brasileiras e de baleares, com a solidariedade, o civismo, a etica e os valores morais positivos, além de qualquer atividade que suponha um beneficio para a comunidade em geral.